As taxas de doenças crônicas dispararam, a obesidade está em alta e a expectativa de vida está diminuindo nos EUA. A raiz da crise? Uma relação simbiótica entre a agricultura industrial e as indústrias farmacêuticas que prioriza o lucro em detrimento da saúde pública.
Pontos-chave:
- As taxas de doenças crônicas nos EUA aumentaram de 7,5% na década de 1930 para 60% hoje, enquanto a obesidade agora afeta 40% dos americanos.
- Quatro corporações dominam a agricultura, controlando 85% dos frigoríficos de carne bovina, 70% dos frigoríficos de carne suína e 95% da propriedade intelectual do milho.
- As empresas farmacêuticas gastaram 294 milhões em lobby em 2024, enquanto o agronegócio gastou 32,7 milhões, com a Bayer liderando o movimento.
- Ambas as indústrias prosperam em ciclos de dependência: os agricultores dependem de insumos sintéticos, enquanto os pacientes dependem de medicamentos para toda a vida.
A América está no meio de uma crise de saúde diferente de qualquer outra que já enfrentou antes. Na década de 1930, doenças crônicas afetavam apenas 7,5% da população. Hoje, esse número aumentou para 60%, com taxas de obesidade subindo para 40%. Ainda mais alarmante, os EUA são a única nação desenvolvida onde tanto a expectativa de vida saudável quanto a expectativa de vida total estão diminuindo — uma tendência que começou antes da pandemia da COVID-19. Apesar dos avanços na tecnologia e na medicina, estamos vivendo vidas mais curtas e doentes do que nossos avós.
A raiz desta crise está nos sistemas interligados da Big Ag e da Big Pharma — duas indústrias que lucram nos mantendo dependentes de seus produtos. Da comida que comemos aos medicamentos que tomamos, essas corporações criaram um ciclo de dependência que prejudica nossa saúde e a saúde do planeta.
Bayer: O garoto-propaganda da Big Ag e da Big Pharma
Quando se trata da sobreposição entre agricultura e produtos farmacêuticos, a Bayer se destaca como um excelente exemplo. A multinacional alemã, que adquiriu a Monsanto em 2018 por US$ 63 bilhões, agora opera em produtos farmacêuticos, saúde do consumidor e agricultura. Essa fusão criou um gigante corporativo que exerce influência significativa sobre o que comemos e como tratamos nossas doenças.
A divisão farmacêutica da Bayer produz medicamentos de sucesso como Xarelto para problemas cardiovasculares e Stivarga para câncer, enquanto sua divisão de saúde do consumidor comercializa nomes conhecidos como Claritin e MiraLAX. Enquanto isso, seu braço agrícola, reforçado pela expertise da Monsanto, domina os mercados globais de sementes e agroquímicos.
Mas essa consolidação de poder levanta questões sérias. Uma corporação pode realmente defender a saúde enquanto promove práticas agrícolas que dependem de fertilizantes sintéticos, pesticidas e culturas geneticamente modificadas (GM) — práticas que degradam a saúde do solo e contribuem para doenças crônicas?
A concentração de poder em ambas as indústrias é impressionante. A métrica CR4, que mede a fatia de mercado das quatro maiores empresas em uma indústria, revela o quão monopolizados esses setores se tornaram.
- Agricultura: O CR4 para embalagem de carne bovina aumentou de 25% em 1977 para 85% em 2018. Da mesma forma, quatro empresas controlam 95% da propriedade intelectual do milho dos EUA e 84% da propriedade intelectual da soja.
- Produtos farmacêuticos: No mercado de vacinas, Pfizer, GSK, Sanofi e Merck controlam quase 80% das vendas globais. Os medicamentos para diabetes são dominados pela Novo Nordisk, Eli Lilly e Sanofi, com um CR4 de cerca de 70%.
Essa concentração de poder permite que as corporações ditem preços, políticas e acesso ao mercado, muitas vezes às custas dos consumidores e dos pequenos agricultores. Os agricultores são presos a sistemas que os obrigam a comprar insumos caros, como sementes GM e fertilizantes sintéticos, enquanto os pacientes são canalizados para regimes de medicamentos vitalícios que tratam os sintomas em vez de abordar as causas raiz.
Financiamento governamental: reforçando a dependência
Ambas as indústrias dependem fortemente de subsídios e políticas governamentais que perpetuam seus modelos voltados para o lucro. Na agricultura, programas federais como o Crop Insurance Program incentivam a agricultura de alto rendimento e intensiva em produtos químicos, enquanto marginalizam práticas regenerativas como rotação de culturas e cultivo de cobertura.
Da mesma forma, as políticas de saúde priorizam tratamentos farmacêuticos em detrimento de cuidados preventivos. Os planos de seguro geralmente cobrem medicamentos e cirurgias, mas excluem abordagens holísticas, como aconselhamento nutricional ou terapias alternativas. Isso cria um ciclo de dependência que beneficia as corporações, enquanto deixa consumidores e fazendeiros presos em sistemas insustentáveis.
O lobby fortalece ainda mais o poder dessas indústrias. Em 2024, as empresas farmacêuticas gastaram 294 milhões em esforços de lobby, enquanto o agronegócio gastou 32,7 milhões. A Bayer sozinha gastou US$ 6,46 milhões nos EUA, garantindo que as políticas e regulamentações se alinhassem com seus interesses.
Saúde intestinal e saúde do solo: um paralelo impressionante
A conexão entre a saúde humana e a agricultura se torna ainda mais clara ao examinar os paralelos entre a saúde intestinal e a saúde do solo. Assim como um microbioma intestinal equilibrado é essencial para a saúde geral, um microbioma do solo próspero é crucial para a produção de alimentos ricos em nutrientes.
No entanto, a dependência da agricultura industrial em insumos sintéticos perturba o microbioma do solo, levando a invasões de pragas, deficiências de nutrientes e uma dependência de ainda mais produtos químicos. Isso reflete o uso excessivo de antibióticos, que perturba o microbioma intestinal e pode levar a problemas crônicos de saúde.
Ao melhorar a saúde do solo por meio de práticas agrícolas regenerativas, podemos quebrar esse ciclo de dependência e produzir alimentos que realmente nos nutrem. Da mesma forma, focar em cuidados de saúde preventivos — por meio de dieta, exercícios e gerenciamento de estresse — pode reduzir nossa dependência de produtos farmacêuticos.
Os sistemas dos quais dependemos para alimentação e assistência médica estão quebrados. A Big Ag e a Big Pharma criaram um mundo onde a dependência é lucrativa e a saúde é secundária. Mas a mudança real não virá de cima para baixo; virá de baixo para cima.
Ao apoiar a agricultura regenerativa e escolher alimentos produzidos sem produtos químicos nocivos, podemos impulsionar uma mudança de mercado em direção à sustentabilidade. Da mesma forma, ao assumir o controle de nossa saúde e focar na prevenção, podemos reduzir nossa dependência de produtos farmacêuticos. A escolha é nossa: continuar em um caminho de dependência e declínio da saúde, ou investir em um futuro onde a saúde e a sustentabilidade tenham prioridade sobre os lucros corporativos.
Fonte: https://www.newstarget.com/2025-02-13-how-our-food-and-health-systems-keep-us-sick.html