A Pfizer concordou com um acordo entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões para resolver mais de 10.000 ações judiciais nos Estados Unidos. Essas ações acusam a gigante farmacêutica de ocultar os riscos de câncer associados a seus medicamentos experimentais, incluindo o medicamento amplamente usado para azia, Zantac (ranitidina).
Um processo judicial em Delaware confirmou o acordo, conforme relatado pela primeira vez pela Bloomberg. No entanto, embora a Pfizer tenha se movimentado para encerrar este capítulo, muitos outros demandantes ainda não chegaram a um acordo, deixando a batalha legal longe do fim.
Ironicamente, considerando sua mudança para a oncologia, a Pfizer tem um histórico bem documentado de ocultar e encobrir riscos de câncer associados aos seus medicamentos.
A controvérsia em torno do Zantac surgiu quando uma farmácia online detectou baixos níveis de um provável carcinógeno no medicamento, disparando alarmes na comunidade médica e nas agências reguladoras. O FDA, junto com reguladores globais de saúde, logo lançou investigações, levando a um recall massivo de produtos Zantac em todo o mundo.
Mas Zantac é apenas um exemplo. Repetidamente, a Pfizer foi acusada de priorizar lucros em detrimento da segurança do paciente, suprimindo dados e manipulando ensaios clínicos para obscurecer os riscos de longo prazo de seus medicamentos.

Defensores da saúde pública alertam que esse acordo faz parte de um padrão maior, em que a Big Pharma silenciosamente paga para se livrar da responsabilidade.
Um forte exemplo desse padrão é o acordo da Pfizer de 2012, no qual a empresa pagou US$ 2,3 bilhões — o maior acordo de fraude em assistência médica na história dos EUA na época — por promover medicamentos ilegalmente e enganar o público sobre sua segurança.
A Pfizer não está sozinha enfrentando ações legais. Outras gigantes farmacêuticas, incluindo Sanofi, Boehringer Ingelheim e GSK, também foram atingidas por ações judiciais sobre riscos de câncer em seus medicamentos. No início deste ano, a Sanofi chegou a um acordo preliminar para resolver 4.000 ações judiciais por danos pessoais, sinalizando um acerto de contas mais amplo em toda a indústria.
Os críticos argumentam que esses acordos são uma gota no oceano em comparação com as vidas impactadas. Apesar da disposição da Pfizer em fazer um acordo, ela não admitiu nenhuma irregularidade — um manual familiar usado pela Big Pharma para contornar a responsabilização enquanto protege seus lucros.
Justiça ou apenas controle de danos?
Embora o pagamento de US$ 250 milhões possa parecer substancial, ele empalidece em comparação aos lucros potenciais que as empresas farmacêuticas obtiveram ao vender medicamentos perigosos. O acordo faz pouco para responder à pergunta maior: há quanto tempo a Pfizer e outras sabiam sobre os riscos? E, mais importante, quantas vidas foram perdidas antes que ações fossem tomadas?
Com processos judiciais ainda pendentes e a confiança do público na Big Pharma em baixa histórica, uma coisa é clara: a Pfizer pode estar assinando cheques, mas não pode apagar a verdade.