- Um estudo inovador revela que os microplásticos estão prejudicando a fotossíntese das plantas, levando a perdas significativas nas colheitas. Até 2045, isso pode levar mais 400 milhões de pessoas à fome, agravando a fome global.
- Microplásticos, menores que 5 milímetros, infiltram-se no solo, na água e no ar, afetando culturas básicas como trigo, arroz e milho. A Ásia, o maior produtor dessas culturas, é particularmente impactada, com perdas anuais variando de 54 a 177 milhões de toneladas.
- Microplásticos foram detectados no sangue humano, cérebros, leite materno, placentas e medula óssea. Eles estão ligados a sérios problemas de saúde, incluindo câncer, derrames, ataques cardíacos e problemas reprodutivos, levantando preocupações sobre impactos de longo prazo na saúde humana.
- Enquanto a Ásia, a Europa e os EUA enfrentam declínios agrícolas significativos, regiões como a América do Sul e a África carecem de dados suficientes sobre contaminação por microplásticos, destacando a necessidade de pesquisas mais abrangentes.
- Cientistas pedem que líderes globais priorizem a redução de microplásticos em políticas ambientais. Sem ação imediata, a poluição plástica continuará a aumentar, ameaçando ecossistemas e gerações futuras.
Em um mundo já lutando com geopolítica, crescimento populacional e recursos naturais em declínio, uma nova ameaça surgiu — uma tão penetrante que se infiltra no ar que você respira, na comida que você come e até mesmo nos órgãos do seu corpo. Microplásticos, os pequenos fragmentos de resíduos plásticos que poluíram todos os cantos do planeta, agora estão sendo associados a um declínio surpreendente na produção global de alimentos. Um estudo inovador publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences revela que esses poluentes invisíveis estão prejudicando a fotossíntese das plantas, ameaçando empurrar mais 400 milhões de pessoas para a fome até 2045.
O custo oculto da poluição plástica
Microplásticos, definidos como partículas plásticas menores que 5 milímetros, são o subproduto da dependência da humanidade em materiais sintéticos. De garrafas de água a roupas sintéticas, esses plásticos se quebram em pedaços menores ao longo do tempo, infiltrando-se no solo, na água e no ar. O novo estudo, liderado pelo Prof. Huan Zhong da Universidade de Nanquim, estima que entre 4% e 14% das principais safras do mundo — trigo, arroz e milho — já estão sendo perdidas devido à contaminação por microplásticos.
As implicações são impressionantes. Em 2022, aproximadamente 700 milhões de pessoas enfrentaram a fome. Se as tendências atuais continuarem, o número de pessoas em risco de fome pode aumentar em 400 milhões nas próximas duas décadas. “A humanidade tem se esforçado para aumentar a produção de alimentos para alimentar uma população cada vez maior”, disse o Prof. Zhong. “Esses esforços contínuos agora estão sendo prejudicados pela poluição plástica.”
O estudo combinou mais de 3.000 observações de 157 estudos, revelando que os microplásticos impedem a fotossíntese de várias maneiras. Eles impedem que a luz solar alcance as folhas, danificam a estrutura do solo e liberam produtos químicos tóxicos que reduzem os níveis de clorofila. Quando absorvidos pelas plantas, os microplásticos podem obstruir os canais de nutrientes e água, criando moléculas instáveis que prejudicam as células.
Uma crise global com disparidades regionais
O impacto dos microplásticos na agricultura não é distribuído uniformemente. A Ásia, o maior produtor mundial de arroz, trigo e milho, está sofrendo o impacto da crise. As perdas anuais de safra na região variam de 54 milhões a 177 milhões de toneladas — quase metade do total global. A Europa e os Estados Unidos também estão enfrentando declínios significativos na produção de trigo e milho, respectivamente.
Em ecossistemas marinhos, microplásticos estão revestindo algas, a base da cadeia alimentar oceânica. O estudo estima que a produção de peixes e frutos do mar pode diminuir de 1 milhão a 24 milhões de toneladas anualmente, privando dezenas de milhões de pessoas de uma fonte vital de proteína.
Enquanto regiões como América do Sul e África cultivam quantidades menores dessas culturas básicas, dados sobre contaminação por microplásticos nessas áreas permanecem escassos. Essa falta de informações ressalta a necessidade de pesquisas mais abrangentes para entender completamente o escopo do problema.
Da segurança alimentar à saúde humana
A ameaça representada pelos microplásticos se estende muito além da agricultura. Essas minúsculas partículas se infiltraram em corpos humanos, com estudos detectando-as no sangue, cérebros, leite materno, placentas e medula óssea. Embora os efeitos de longo prazo na saúde permaneçam obscuros, os microplásticos foram associados a derrames, ataques cardíacos e até mesmo câncer.
Um estudo separado publicado na Toxicological Sciences encontrou microplásticos em cada uma das 62 amostras de placenta testadas. O polietileno, o tipo mais comum de microplástico detectado, tem sido associado à asma, à interrupção hormonal e a problemas reprodutivos. O cloreto de polivinila (PVC), outro microplástico prevalente, é um carcinógeno conhecido associado a danos no fígado.
Matthew Campen, professor da Universidade do Novo México que liderou o estudo da placenta, alertou que o acúmulo de microplásticos no tecido humano poderia explicar o aumento do câncer de cólon entre pessoas mais jovens, doença inflamatória intestinal e contagem de espermatozoides em declínio. “Se estamos vendo efeitos nas placentas, então toda a vida mamífera neste planeta pode ser impactada”, disse ele. “Isso não é bom.”
Um apelo à ação
As descobertas chegam em um momento crítico. Em dezembro de 2024, os líderes globais não conseguiram chegar a um acordo sobre um tratado das Nações Unidas para conter a poluição por plástico. As negociações devem ser retomadas em agosto, e os cientistas estão pedindo aos formuladores de políticas que priorizem a redução de microplásticos em seus planos de ação.
O Prof. Richard Thompson da Universidade de Plymouth enfatizou a urgência da situação. “Embora as previsões possam ser refinadas à medida que novos dados se tornem disponíveis, está claro que precisamos começar a nos mover em direção a soluções”, disse ele. “Garantir que o tratado aborde a poluição por microplásticos é de fundamental importância.”
O estudo também destaca a interconexão da saúde ambiental e humana. A fotossíntese reduzida devido aos microplásticos pode diminuir a quantidade de dióxido de carbono absorvido pelo fitoplâncton. Esse ciclo de feedback ressalta a necessidade de uma abordagem holística para lidar com a poluição plástica.
Um futuro em risco
Desde a década de 1950, a produção global de plástico disparou, com uma tonelada métrica de resíduos plásticos gerada para cada pessoa na Terra. Grande parte desses resíduos persiste no meio ambiente, decompondo-se em microplásticos que continuarão a contaminar ecossistemas por séculos.
Como o Prof. Campen observou, “Está apenas piorando, e a trajetória é que dobrará a cada 10 a 15 anos. Então, mesmo se parássemos hoje, em 2050 haverá três vezes mais plástico no fundo do que há agora. E não vamos pará-lo hoje.”
A hora de agir é agora. Sem uma ação decisiva, os microplásticos não só colocarão em risco a segurança alimentar global, mas também prejudicarão a saúde das gerações futuras. A questão não é se você pode se dar ao luxo de lidar com essa crise — é se você pode se dar ao luxo de não fazê-lo.