ROMA – “A humanidade precisa de um reset global porque não vale a pena voltar ao mundo injusto e pré-pandêmico”, afirmou o Papa Francisco na segunda-feira.
Em uma mensagem ao Fórum de Paris sobre a Paz, o papa pintou um quadro terrível de um mundo pré-coronavírus dominado pela corrupção, guerra e opressão capitalista.
“A realidade que sabíamos antes da pandemia era que a riqueza e o crescimento econômico eram reservados para uma minoria, enquanto milhões de pessoas eram incapazes de atender às necessidades mais básicas e levar uma vida digna”, disse Francisco, “um mundo em que nossa Terra foi saqueada por uma exploração míope de recursos, pela poluição, pelo consumismo ‘descartável’ e feridos por guerras e experimentos com armas de destruição em massa.”
“Voltar ao normal significaria também um retorno às velhas estruturas sociais inspiradas na autossuficiência, nacionalismo, protecionismo, individualismo e isolamento”, acrescentou, “e excluir nossos irmãos e irmãs mais pobres. Este é um futuro que podemos escolher?”
“Neste mundo globalizado, mas dilacerado, as decisões que tomamos hoje para sair da crise determinam a ‘rota’ das gerações futuras”, declarou ele, e, portanto, “precisamos de uma nova saída” para “sair melhor do que antes.”
“A esperança nos convida a sonhar grande e dar espaço à imaginação para novas possibilidades”, disse ele. “A esperança é ousada e incentiva a ação com base no conhecimento de que a realidade pode ser mudada.”
“Nossa consciência nos chama a “não seguir o caminho fácil de voltar a uma ‘normalidade’ marcada pela injustiça, mas aceitar o desafio de assumir a crise como uma oportunidade concreta de conversão, transformação, de repensar nosso estilo de vida e nosso sistema econômico e social”, ele disse.
A visão do papa para um novo mundo começa com “um compromisso coletivo concreto em favor do desarmamento integral”, observou ele. “O gasto militar mundial já ultrapassou o nível registrado no final da ‘guerra fria’ e está aumentando sistematicamente a cada ano.”
O pontífice criticou os argumentos baseados na dissuasão como “uma ideia abusada” que em muitos casos “foi considerada falaciosa, levando a grandes tragédias humanitárias”.
“Deve-se ressaltar também que a lógica da dissuasão esteve associada à lógica do mercado liberal de que os armamentos podem ser considerados iguais a todos os demais produtos manufaturados e, portanto, livremente comerciáveis em todo o mundo”, alertou. “Portanto, não é coincidência que, durante anos, tenhamos testemunhado de forma acrítica a expansão do mercado de armas em todo o mundo.”