A Big Pharma e o Instituto Nacional de Saúde (NIH) estão fazendo uma iniciativa controversa para adicionar uma nova vacina com fentanil ao calendário de imunização infantil, gerando debates acalorados sobre seu potencial impacto e necessidade.
O calendário de vacinação infantil expandiu-se significativamente nas últimas décadas. Na década de 1960, o calendário de vacinação infantil dos EUA incluía apenas um punhado de vacinas, principalmente para difteria, tétano, coqueluche (DTP), poliomielite e varíola. Em comparação, as crianças de hoje recebem entre 60 e 70 vacinas quando se tornam adolescentes.
A iniciativa da vacina com fentanil ocorre após a atual crise dos opioides, que já custou centenas de milhares de vidas nos EUA, e a grande mídia já começou a promover a ideia.
O fentanil, um poderoso opioide sintético, tem se infiltrado cada vez mais no fornecimento de drogas, levando a overdoses em indivíduos que podem nem perceber que estão consumindo a substância.
Para combater isso, o NIH lançou a Iniciativa HEAL (Helping End Addiction Long-term), que apoia o desenvolvimento de uma vacina projetada para prevenir overdoses de fentanil, bloqueando a capacidade da droga de entrar no cérebro.
O conceito é simples: a vacina produziria anticorpos que atacam o fentanil na corrente sanguínea, impedindo que ele chegue ao sistema nervoso central, onde pode ser fatal.
Apesar de sua promessa, a proposta levantou questões sobre a ética, eficácia e implicações sociais de adicionar tal vacina aos calendários de imunização infantil.
Elissa Weitzman, ScD, MSc, diretora de pesquisa da Divisão de Medicina de Dependência Química do Boston Children’s, liderou um estudo para explorar se os pais aceitariam uma vacina contra o vício em drogas.
“As vacinas têm sido principalmente sobre doenças infecciosas”, diz Weitzman. “A ideia de uma vacina visando um transtorno de saúde comportamental é um cognitivo ‘o quêê…
Os defensores veem isso como uma medida proativa para salvar vidas em uma crise de opioides que está piorando. Muitos pais, particularmente aqueles que perderam filhos por overdose de fentanil, argumentam que toda criança deve receber a vacina, especialmente antes de entrar em ambientes como faculdade, onde a exposição à droga pode ocorrer. Alguns acreditam que pode ser uma ferramenta crítica na prevenção de overdoses acidentais, especialmente com substâncias com fentanil se tornando mais prevalentes.
No entanto, também há preocupações e hesitações. Os céticos se preocupam com a eficácia a longo prazo, potenciais efeitos colaterais e se a vacina pode criar uma falsa sensação de segurança, levando as pessoas a subestimar os perigos do uso de opioides. Alguns questionam se ela pode interferir com outros medicamentos ou tratamentos, como tratamento da dor ou terapias de dependência, como metadona.
Além disso, a ideia de vacinar crianças contra uma ameaça relacionada às drogas repercutiu entre aqueles que veem o vício como uma falha moral ou acreditam que o uso de substâncias deve ser abordado por meio de intervenções comportamentais em vez de soluções médicas.
Essa perspectiva acrescenta outra camada de complexidade ao debate, principalmente devido à natureza controversa das vacinas nos últimos anos, alimentada pela pandemia da COVID-19.
À medida que a vacina contra o fentanil continua a ser desenvolvida, autoridades de saúde pública, cientistas e formuladores de políticas estão enfrentando o desafio de se e como introduzi-la.
O debate destaca questões mais profundas sobre dependência, prevenção e como a sociedade deve responder a uma crise que continua a ceifar dezenas de milhares de vidas a cada ano.