Nunca pretendi ser um defensor. Eu não era médico, cientista ou especialista em políticas públicas. Eu era apenas uma pessoa comum que, como tantas outras, confiava cegamente que nosso sistema de saúde fora projetado para nos proteger.
(Artigo de Kim Witczak republicado de AcceptableCollateralDamage.Substack.com)
Mas a vida tem um jeito de nos puxar para a arena quando menos esperamos.
Após a perda trágica e inesperada do meu marido Woody, devido ao antidepressivo Zoloft, que lhe foi prescrito para insônia, fui lançada em um mundo que nunca imaginei — um mundo em que a medicina não era apenas sobre cura, mas profundamente enredada em um sistema que prioriza o lucro em detrimento da segurança, oculta os danos e mantém o público no escuro.
Por mais de duas décadas, tive um lugar na primeira fila para ver como esse sistema realmente funciona — não a ilusão de supervisão rigorosa que vemos em periódicos médicos ou anúncios farmacêuticos brilhantes, mas a realidade de como a influência da indústria está presente em cada estágio.
Eu me reuni com reguladores, testemunhei perante o FDA e o Congresso, entrei com uma ação por homicídio culposo e omissão de advertência contra a Pfizer e ganhei uma cadeira no Comitê Consultivo de Medicamentos Psicofarmacológicos do FDA como representante do consumidor.
Também falei e participei de conferências globais como Selling Sickness, Too Much Medicine e o encontro Harms in Medicine em Erice, Itália, onde alguns dos principais especialistas do mundo reconhecem o que poucos na medicina tradicional ousam dizer:
Nosso sistema de saúde não é sobre saúde, é sobre negócios.
E neste negócio, o dano não é um acidente. Ele está embutido no sistema.
Quanto mais eu descobria, mais eu percebia:
Não somos apenas pacientes. Somos clientes.
E todos nós estamos presos na teia de influência da Big Pharma.
A teia de aranha da influência
Quanto mais eu aprendia, mais percebia o quão profundamente a indústria farmacêutica está enraizada, não apenas no desenvolvimento e marketing de medicamentos, mas em todos os cantos do nosso sistema de saúde.
É por isso que criei a Teia de Influência da Big Pharma — para mapear visualmente como o sistema foi projetado não para priorizar a saúde, mas para vender doenças enquanto minimiza, minimiza ou esconde completamente os danos.
Do design de ensaios clínicos à aprovação regulatória, da publicidade direta ao consumidor à educação médica, do controle de periódicos médicos ao silenciamento de vozes dissidentes, a indústria construiu uma rede intrincada e autossustentável, que prende médicos, pacientes e até mesmo reguladores em um ciclo de dependência farmacêutica.
Como a Web funciona
- Os ensaios clínicos são frequentemente concebidos, financiados e controlados pelas mesmas empresas que lucram com isso. Elas manipulam dados para exagerar os benefícios e ocultar os riscos, garantindo que resultados negativos sejam ocultados, manipulados ou nunca publicados.
- Agências reguladoras como a FDA estão profundamente envolvidas com o setor que deveriam supervisionar. Mais de 50% do orçamento da FDA provém de taxas de usuário pagas pela indústria, e uma porta giratória garante que muitos tomadores de decisão importantes venham — e depois retornem — às empresas farmacêuticas.
- Revistas médicas dependem do financiamento da indústria farmacêutica por meio de publicidade, vendas de reimpressões e estudos patrocinados pela indústria — o que limita severamente o escrutínio independente da segurança dos medicamentos. Muitos estudos são escritos por ghostwriters ou elaborados por “líderes de opinião” (KOLs) pagos, que atuam como mensageiros de confiança da indústria farmacêutica.
- Os médicos recebem educação por meio de programas financiados pela indústria, aprendendo “melhores práticas” com base em diretrizes de tratamento elaboradas pelo próprio sistema que lucra com o excesso de prescrições.
- Grupos de defesa de pacientes, antes organizações de base independentes, foram cooptados pelo dinheiro da indústria, garantindo que as vozes mais altas frequentemente atendam aos interesses da indústria farmacêutica em vez das necessidades dos pacientes. Eu os chamo de grupos de pacientes “astroturf” — eles parecem organizações de base de verdade, mas não são nada disso.
- Os exames e diretrizes expandem continuamente as definições de doenças, transformando mais pessoas em clientes vitalícios.
Não se trata de um único agente mal-intencionado ou de corrupção isolada — trata-se de um problema sistêmico. Toda a estrutura é projetada para empurrar mais medicamentos para o mercado, medicalizar experiências humanas normais e só reconhecer os danos quando eles se tornam grandes demais para serem ignorados.
É um modelo de negócio brilhante, mas uma estratégia de saúde pública catastrófica.
“Vender para todos”: o modelo de negócios da medicina
Se isso parece uma conspiração, considere a ousada admissão feita por Henry Gadsden, ex-CEO da Merck, em uma entrevista de 1976 à revista Fortune:
O problema que enfrentamos é limitar o potencial dos medicamentos para pessoas doentes. Poderíamos ser mais como a Wrigley’s Gum… sempre foi meu sonho fabricar medicamentos para pessoas saudáveis. Vender para todos.
– Ex-CEO da Merck, Henry Gadsden
Deixe isso penetrar na sua mente.
Não se tratava de curar doenças, mas sim de expandir mercados. A visão de Gadsden não era apenas tratar doenças, mas medicalizar a vida cotidiana — criando um modelo do berço ao túmulo, em que cada pessoa, saudável ou doente, se tornava cliente para o resto da vida. Assim como vender uma variedade de chicletes — algo para todos. Juicy Fruit, Big Red, Doublemint, Spearmint e assim por diante.
E foi exatamente isso que aconteceu.
Hoje vivemos num sistema onde:
- Emoções cotidianas — tristeza, preocupação, timidez — são rebatizadas como condições médicas que exigem tratamento.
- Medicina preventiva geralmente significa receitas para toda a vida, não mudanças no estilo de vida.
- Os medicamentos são comercializados para os “preocupados e bem”, transformando experiências humanas normais em diagnósticos.
Isso não é apenas teoria — está bem documentado. Em “Selling Sickness: How the World’s Biggest Pharmaceutical Companies Are Turning Us All into Patients” (Vendendo Doenças: Como as Maiores Empresas Farmacêuticas do Mundo Estão nos Transformando em Pacientes), Ray Moynihan e Alan Cassels expõem como as empresas farmacêuticas criam doenças, expandem os critérios diagnósticos e convencem o público de que experiências normais da vida exigem intervenção médica.
O objetivo?
Faça da medicação o padrão — não o último recurso.
Os danos são sempre uma reflexão tardia
Danos causados por medicamentos não são raros nem inesperados.
Mas neste sistema, eles são tratados como danos colaterais aceitáveis — algo a ser resolvido somente depois que o dano for feito, depois que vidas forem perdidas ou mudadas para sempre.
Participei de reuniões do Comitê Consultivo da FDA, analisando novos pedidos de medicamentos, e vi em primeira mão como as preocupações com a segurança são frequentemente descartadas em favor da “inovação” ou da “necessidade médica não atendida“.
Ouvi representantes da indústria e membros do comitê consultivo argumentarem que os sinais de segurança podem ser abordados após o mercado, ou seja, depois que o medicamento já está em circulação e causando danos, ou após um programa REMS (Estratégias de Avaliação e Mitigação de Riscos) necessário após a aprovação.
Mas quando os problemas de segurança pós-comercialização são reconhecidos, geralmente é tarde demais.
Já vimos isso acontecer inúmeras vezes:
- Opioides — comercializados como “não viciantes” e impostos agressivamente aos pacientes, levando a uma epidemia de dependência e morte.
- ISRS e antidepressivos — há muito associados a riscos aumentados de suicídio e violência, especialmente em jovens, mas minimizados ou ignorados por décadas. Outros danos ocultos incluem síndromes de abstinência e Disfunção Sexual Pós-ISRS (PSSD), condições sobre as quais muitos pacientes nunca foram alertados.
- Antipsicóticos — amplamente prescritos para uso off-label, causando efeitos colaterais metabólicos e neurológicos graves.
- Vacinas contra a Covid-19 — uma plataforma experimental de mRNA lançada às pressas no mercado, obrigatória e imposta à sociedade, apesar dos dados limitados de segurança a longo prazo e das crescentes preocupações com danos.
Toda vez, o padrão é o mesmo:
A indústria vende os benefícios enquanto minimiza os riscos, até que esses riscos se tornam grandes demais para serem ignorados.
Nessa altura, o medicamento já é um sucesso de vendas, milhares de milhões já foram produzidos e o sistema avança para o próximo “avanço”.
Mais do que Graus: A Verdade da Experiência Vivida
Uma das maiores lições que aprendi nessa luta é que a experiência no mundo real importa tanto quanto as credenciais.
Ao longo dos anos, fui convidado para palestrar em faculdades de medicina, programas de doutorado e universidades, graças a acadêmicos corajosos dispostos a desafiar a narrativa. Compartilho minha jornada como um defensor acidental — alguém que não tinha diploma de medicina, mas descobriu o sistema antidrogas falido dos Estados Unidos da maneira mais difícil.
Mas sejamos honestos: o mundo da medicina é movido por credenciais. Ou, como eu gosto de dizer, pela sopa de letrinhas.
Em conferências, os participantes usam crachás com seus títulos — MD, PhD, JD, MPH. É uma maneira rápida de avaliar alguém, de avaliar sua credibilidade antes mesmo de falar. E eu já vi isso acontecer: as pessoas olham para o meu crachá, não veem nenhuma letra marcante depois do meu nome e passam direto.
Anos atrás, eu estava falando na Conferência de Prevenção de Sobrediagnóstico e notei que meu crachá dizia: Kim Witczak, BA.
Fiquei horrorizada. Aquilo era mesmo necessário? Será que meu crachá precisava lembrar a todos que eu só tinha bacharelado?
Mais tarde, eu estava contando a história para um amigo médico, e ele riu.
“Da próxima vez, diga a eles que BA significa Bad Ass.”
E ele estava certo.
Porque a verdadeira expertise nem sempre vem de um diploma avançado, mas sim da experiência vivida, de fazer as perguntas certas e de se recusar a aceitar o status quo.
O contra-argumento: Mas não precisamos de especialistas?
É claro que alguns argumentarão que somente especialistas com doutorado e medicina devem ser confiáveis para moldar políticas de saúde.
Mas isso pressupõe que o sistema em que operam esteja livre de preconceitos, conflitos de interesse ou incentivos financeiros.
A realidade é que muitos daqueles com mais letras depois de seus nomes também são os que se beneficiam do financiamento da indústria farmacêutica, seja por meio de honorários de consultoria, bolsas de pesquisa ou funções de consultoria.
Enquanto isso, os pacientes e suas famílias — aqueles que vivem com as consequências — são muitas vezes ignorados.
Isso precisa mudar.
Fazendo perguntas melhores: recuperando nosso poder
Se tem uma coisa que aprendi nessa jornada, é: ninguém virá nos salvar. As instituições que deveriam nos proteger estão muito presas na rede para agir com verdadeira independência.
Meu falecido marido, Woody, costumava dizer: “Siga o dinheiro”. E quando você o faz, a verdade se torna impossível de ignorar. Os lucros da indústria farmacêutica — e não o bem-estar do paciente — impulsionam o sistema. É por isso que a única maneira de gerar mudanças reais é por meio da conscientização, da transparência e de uma mudança fundamental na forma como pensamos sobre medicina e saúde.
Isso começa com a formulação de perguntas melhores:
- Quem financiou esta pesquisa?
- Essa pessoa ou instituição tem vínculos financeiros, preconceito intelectual ou interesse próprio que possam impactar suas recomendações?
- Quem se beneficia deste tratamento?
- O que não nos estão dizendo?
- Quais são as consequências a longo prazo deste medicamento ou intervenção?
- Existem alternativas mais seguras e sem medicamentos que estão sendo ignoradas porque não são lucrativas?
Mas fazer as perguntas certas não é suficiente.
Precisamos parar de terceirizar nossa saúde para um sistema baseado em incentivos financeiros e guiado por interesses corporativos.
Devemos exigir total transparência, desafiar o status quo e reconhecer que, às vezes, o melhor remédio não é uma pílula, mas uma compreensão mais profunda do que nossos corpos realmente precisam.
Porque uma vez que você vê a web, não é possível desvê-la.
E quando você reconhecer o quão profundamente a medicina foi moldada pelo lucro, você perceberá que a pergunta mais importante não é apenas “O que posso tomar?” — é “Quem se beneficia se eu tomar?”
Considerações finais: destruindo a web
Eu nunca quis estar nessa luta, mas, depois que você vê a internet, não consegue mais deixar de vê-la. É por isso que continuo a me manifestar, a desafiar o sistema e a pressionar por uma responsabilização real.
Porque os riscos não são teóricos. São profundamente pessoais.
Para mim, essa luta começou há mais de duas décadas com o Woody. Mas para muitos outros, ela começa no momento em que eles ou alguém que amam é pego na teia — confiando em um sistema que nunca foi realmente projetado para protegê-los.
É hora de acabar com a web.
E começa quando vemos as coisas como elas realmente são.
Fonte: https://www.newstarget.com/2025-04-09-how-big-pharma-weaves-its-web.html