- Um ensaio clínico em larga escala relacionou a suplementação diária de vitamina D ao encurtamento mais lento dos telômeros, um marcador biológico do envelhecimento, ao longo de quatro anos.
- Observadores alertam que o tamanho do efeito (140 pares de bases perdidos a menos) foi pequeno e está dentro da variação normal, limitando sua significância clínica.
- O estudo está alinhado com descobertas anteriores de que a vitamina D reduz os riscos de doenças crônicas, mas destaca a necessidade de ensaios clínicos diversos e de longo prazo.
- Cientistas alertam contra a interpretação dos telômeros como um simples “relógio do envelhecimento”, pois comprimentos extremos podem indicar riscos à saúde.
- Especialistas recomendam vitamina D para grupos de risco, mas enfatizam o estilo de vida, não os suplementos, como ferramentas principais para um envelhecimento saudável.
Um estudo histórico publicado recentemente no American Journal of Clinical Nutrition revela que a suplementação de vitamina D pode retardar um sinal-chave do envelhecimento biológico: o encurtamento dos telômeros. A análise, extraída do ensaio clínico VITamin D and OmegA-3 TriaL (VITAL), acompanhou mais de 1.000 participantes com idades entre 50 e 79 anos e descobriu que a ingestão diária de 2.000 UI de vitamina D atrasou o desgaste dos telômeros em aproximadamente 140 pares de bases ao longo de quatro anos, em comparação com um placebo. Embora as descobertas contribuam para a crescente evidência do potencial antienvelhecimento da vitamina D, os especialistas enfatizam que traduzir esse benefício celular em resultados de saúde mensuráveis requer mais investigação.
Os telômeros, as capas protetoras nas extremidades dos cromossomos, sofrem erosão a cada divisão celular, sinalizando o envelhecimento e predispondo os indivíduos a doenças como doenças cardíacas e demência. O principal autor do estudo, Dr. Haidong Zhu, da Universidade Augusta, observou que a vitamina D “retarda o processo de encurtamento dos telômeros”, mas a coautora Dra. JoAnn Manson, de Harvard, recomendou moderação: “A replicação em outro estudo é crucial antes de alterar as diretrizes.”
Principais descobertas confirmam e complicam hipóteses anteriores
O subestudo VITAL Telomere — um subconjunto de 1.054 participantes do estudo mais amplo, com 25.871 participantes — mediu o comprimento do telômero em leucócitos nos anos 0, 2 e 4. No final da década de 2020, os pacientes que tomavam vitamina D retinham, em média, 140 pares de bases a mais (de um total de ~8.700) do que aqueles que tomavam placebo. Essa diferença correspondia a um ligeiro “atraso de três anos no envelhecimento”, segundo o relatório.
Os resultados estão alinhados com dados anteriores do VITAL que associam a vitamina D a menores riscos de doenças crônicas, como câncer avançado e doenças autoimunes. No entanto, o efeito permanece modesto. A Dra. Mary Armanios, especialista em telômeros da Johns Hopkins, comparou a diferença de 140 pares de bases a um aumento insignificante da hemoglobina sanguínea, alertando contra a interpretação exagerada como um benefício à saúde: “A maioria de nós está em uma faixa intermediária segura. Os extremos são importantes — muito curtos ou muito longos podem ser perigosos.”
O estudo também não encontrou nenhum efeito protetor do telômero dos ácidos graxos ômega-3, apesar de seus benefícios cardiovasculares estabelecidos.
Especialistas pedem cautela com as suposições sobre o “relógio” dos telômeros
Embora os telômeros sejam há muito alardeados como um “relógio biológico” envelhecido, pesquisadores enfatizam sua complexidade. Armanios ressaltou que o método utilizado — a reação em cadeia da polimerase quantitativa (qPCR) — pode distorcer os resultados devido à manipulação de variáveis, reduzindo a confiabilidade para mudanças sutis. “Testes de telômeros em laboratório podem ser como um voltímetro medindo a temperatura ambiente”, disse ela. “Mesmo uma mudança de três graus pode não significar nada.”
Além disso, o comprimento dos telômeros não é um indicador infalível de envelhecimento. Um estudo de 2023 publicado no New England Journal of Medicine relacionou o alongamento excessivo dos telômeros ao aumento do risco de câncer, sugerindo que o “ajuste ideal” é fundamental. “Telômeros curtos são ruins — assim como os superlongos”, observou Armanios.
Críticos também questionam a homogeneidade do VITAL. Quase todos os participantes eram brancos, levantando preocupações sobre a generalização. “Se tivéssemos uma população mais ampla, os resultados mudariam?”, perguntou Marion Nestle, professora de nutrição da NYU. “Essas lacunas justificam uma análise mais aprofundada.”
O papel da vitamina D evolui além da saúde óssea
Historicamente reconhecida por fortalecer os ossos, as funções mais amplas da vitamina D estão emergindo. Manson enfatizou que as descobertas do estudo podem explicar seus efeitos anteriores na prevenção de doenças: “A proteção dos telômeros pode estar mecanicamente ligada à redução da inflamação e do risco de câncer.”
As diretrizes globais para vitamina D permanecem conservadoras. A Academia Nacional de Medicina recomenda 600 a 800 UI por dia para a maioria dos adultos, enquanto a Sociedade de Endocrinologia recomenda que aqueles em risco (por exemplo, idosos e indivíduos com deficiência) tomem de 1.500 a 2.000 UI. Suplementos podem oferecer ganhos marginais, mas especialistas priorizam o estilo de vida em vez de comprimidos. “Luz solar, dieta e atividade física têm mais impacto”, disse Armanios.
O estudo DO-HEALTH da UE, que testou 2.000 UI em 2.156 adultos com mais de 70 anos, não encontrou redução geral nas doenças, mas observou pequenos benefícios para os ossos e infecções. Dados observacionais, como o estudo ESTHER, correlacionam níveis mais altos de vitamina D com menos mortes cardíacas, mas isso pode refletir fatores de confusão, como hábitos de exercício.
Direções futuras: Precisão e contexto
Pesquisadores concordam que ensaios mais diversificados e mais longos são necessários — para levar em conta fatores como raça, histórico de doenças e exposição solar. O Dr. Anastassios Pittas, da Universidade Tufts, observou que os resultados do VITAL corroboram as recomendações existentes para grupos de risco, como idosos e pré-diabéticos.
A dosagem continua sendo uma questão fundamental: 2.000 UI parecem seguras, mas doses superiores a 10.000 UI correm risco de hipocalcemia, alertou Manson.
Equilibrando promessa e praticidade na pesquisa sobre envelhecimento
O subestudo VITAL Telômero acrescenta mistério ao potencial da vitamina D para retardar o envelhecimento, mas ressalta por que o dogma sobre nutrientes milagrosos precisa ser abandonado. Embora os profissionais possam refinar as recomendações para populações vulneráveis, não há atalhos aqui: “O comprimento do telômero não deve influenciar as escolhas de suplementos”, disse Armanios. “Exercite-se ao ar livre, mantenha uma dieta balanceada — essas ainda são suas melhores apostas.”
À medida que a busca por ferramentas antienvelhecimento continua, a conclusão do estudo é clara: descobertas provocativas, como a própria biologia dos telômeros, exigem atenção.
Fonte: https://www.newstarget.com/2025-06-12-vitamin-d-may-help-halt-cellular-clock.html