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TRATADO DA OMS PARA PANDEMIAS GERA DEBATE GLOBAL SOBRE SOBERANIA E INFLUÊNCIA DA BIG PHARMA

  • O Tratado Internacional sobre Prevenção, Preparação e Resposta a Pandemias, juridicamente vinculativo, da OMS, visa padronizar medidas globais de saúde para crises futuras, promovendo o compartilhamento de dados, a equidade na vacinação e a vigilância de surtos. Críticos argumentam que ele corre o risco de minar a soberania nacional e fortalecer as empresas farmacêuticas.
  • O tratado exige que as nações destinem 10% da produção de vacinas/tratamentos à OMS e outros 10%, a taxas subsidiadas, para os países mais pobres. Os céticos veem isso como uma violação da autonomia nacional, enquanto os defensores o consideram um compromisso justo para o acesso equitativo.
  • O tratado enfrenta críticas devido a vínculos com Bill Gates e a indústria farmacêutica, com preocupações de que seu Sistema de Acesso a Patógenos e Repartição de Benefícios (PABS) possa priorizar lucros privados em detrimento da saúde pública. Os críticos também destacam a falta de mecanismos de fiscalização da OMS para garantir o cumprimento.
  • Os EUA optaram por não assinar, apesar de terem retornado à OMS sob o governo Biden, sinalizando um recuo da liderança global em saúde. Enquanto isso, países como China e Brasil estão ganhando influência na governança da pandemia, embora as questões de transparência da China suscitem dúvidas.
  • O tratado é criticado tanto por grupos de esquerda (por não conter o poder corporativo) quanto por libertários (por seu alcance internacional excessivo). Seu sucesso depende do equilíbrio entre a preparação para a pandemia e a soberania, em meio à desconfiança generalizada nas instituições globais.

Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a um acordo controverso sobre um Tratado sobre Pandemia juridicamente vinculativo, com o objetivo de unificar as respostas globais de saúde a crises futuras, como a pandemia do coronavírus. No entanto, a rápida aprovação do acordo gerou críticas ferozes de defensores da liberdade na saúde e de nações receosas de invadir sua soberania ou empoderar gigantes farmacêuticas. Autoridades como a negociadora brasileira Deisy Ventura argumentam que o tratado simboliza o progresso na colaboração pós-pandemia, mas os céticos alertam para exageros antidemocráticos.

Os objetivos do tratado e a crescente reação negativa

Aprovado após três anos de negociações, o “Tratado Internacional sobre Prevenção, Preparação e Resposta a Pandemias” obriga os Estados-membros a aprimorar o compartilhamento de dados, fortalecer os sistemas de vigilância e colaborar no desenvolvimento de vacinas e medicamentos. Baseado no acesso equitativo a recursos médicos e na detecção precoce de surtos, o tratado busca evitar as desigualdades da pandemia de 2020-2023, quando as nações mais ricas restringiram o acesso às vacinas, deixando os países mais pobres vulneráveis.

No entanto, os críticos enfatizam os vínculos problemáticos do tratado com entidades como o cofundador da Microsoft, Bill Gates, um importante financiador de iniciativas globais de saúde, e empresas farmacêuticas que influenciam seus termos. O Sistema de Acesso e Repartição de Benefícios de Patógenos (PABS) proposto pelo tratado, projetado para acelerar o desenvolvimento de medicamentos por meio da simplificação da troca de dados genéticos, alarma os defensores da privacidade. Eles argumentam que ele corre o risco de ceder o controle da pesquisa médica a empresas privadas, exacerbando a saúde com fins lucrativos.

O Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, classificou o tratado como um “marco significativo” para o multilateralismo, citando-o como prova de que as nações podem se unir apesar das divisões geopolíticas. No entanto, a consultora de saúde global Nina Schwalbe reconheceu que o acordo carecia de força, sem mecanismos de execução para garantir o cumprimento durante crises. “Não há como obrigar as nações a compartilhar, o que significa que a história pode se repetir”, alertou, referindo-se à acumulação de vacinas pelos EUA durante a crise de 2020.

Soberania e execução: o calcanhar de Aquiles do acordo

No centro da reação negativa está a exigência do tratado de que os países cedam 10% da capacidade de fabricação de vacinas e tratamentos à OMS, com 10% adicionais alocados a taxas subsidiadas para regiões pobres. Embora tenha como objetivo garantir acesso equitativo, os críticos argumentam que isso infringe a autonomia nacional de produção. Anne-Claire Amprou, embaixadora global da França em saúde, defendeu o acordo como “um justo acordo de concessões mútuas”, mas delegados africanos e latino-americanos revelaram tensões em relação a dinâmicas de poder desiguais.

Alexandra Finch, da Universidade de Georgetown, ressaltou preocupações com as obrigações financeiras, observando que os países em desenvolvimento devem promulgar planos para a pandemia “sujeitos aos recursos disponíveis” — uma brecha que permite que países subfinanciados os ignorem. Enquanto isso, a dependência do tratado no compartilhamento de tecnologia “acordado mutuamente” entre os países deixa brechas para que as empresas farmacêuticas resistam à transparência. Michelle Childs, da DNDi, destacou cláusulas que permitem às autoridades de saúde pública exigir pesquisa de código aberto para produtos relacionados à pandemia. Ainda assim, na ausência de penalidades severas para o descumprimento, o sucesso do sistema depende da boa vontade — uma perspectiva incerta em uma era de competição global.

Os proponentes do tratado enquadram esses termos como medidas pragmáticas, mas oponentes, como os defensores da liberdade na saúde, criticam sua imprecisão. “É unilateral”, disse uma fonte, chamando a atenção para os laços opacos da OMS com financiadores como Gates. Eles veem o pacto como um cavalo de Troia para interesses corporativos, aumentando a influência da indústria farmacêutica em países de baixa renda.

A retirada dos EUA e a mudança na liderança da saúde global

A ratificação do tratado marca um momento crucial na governança da saúde global após a saída dos EUA da OMS sob o governo do presidente Trump. Apesar de terem retornado sob o governo Biden, os EUA não assinarão o acordo, sinalizando um recuo da liderança global em saúde. Schwalbe chamou isso de “lamentável”, já que patógenos não respeitam fronteiras. Neil Vora, da Coalizão Preventing Pandemics at the Source, enfatizou que a ausência dos EUA — o maior produtor biofarmacêutico do mundo — enfraquece a prontidão coletiva contra ameaças zoonóticas como a gripe aviária ou o vírus de Marburg.

O sucesso do pacto também destaca uma dinâmica de poder crescente: nações como Brasil, China e países do G7 agora dominam o planejamento de pandemias. Ventura elogiou a medida como uma rejeição às abordagens “centradas nos EUA”, observando que o tratado adota uma estratégia holística para prevenir a disseminação de patógenos de animais — uma mudança que ela considera crucial. No entanto, a resposta historicamente opaca da China a surtos (como no caso da SARS e da pandemia de 2020) complica sua promessa de ser “mais transparente em relação a surtos”.

Um Frankenstein bipartidário

Críticos tanto da esquerda quanto da direita condenam o tratado como um exagero. Enquanto ativistas de esquerda argumentam que ele não democratiza o acesso às vacinas nem controla o poder corporativo, grupos libertários o veem como um canal para um “exagero” internacional. O debate reflete um descontentamento mais amplo com instituições como a OMS, acusada de politizar crises de saúde e marginalizar as necessidades de nações menores.

Preparação para uma pandemia vs. soberania — Um equilíbrio frágil

Enquanto as nações se preparam para formalizar o tratado na Assembleia Mundial da Saúde em maio, os riscos permanecem altos. Seus proponentes o veem como uma tábua de salvação em uma era de epidemias crescentes, enquanto os céticos alertam para custos ocultos para a autonomia. O legado do acordo pode depender de sua estrutura idealista conseguir impor a cooperação — ou se suas falhas comprometerão os próprios objetivos da equidade global em saúde.

Vora vê o tratado como um “marco”, enfatizando que qualquer medida preventiva é melhor do que nenhuma. Ainda assim, ele admite: “Estamos partindo de uma base de desconfiança”. Por enquanto, o mundo prende a respiração — observando se o multilateralismo pode triunfar sobre o nacionalismo ou se o tratado sobre pandemias se torna mais uma vítima na luta entre a saúde pública e o poder.

 

Fonte: https://pandemic.news/2025-04-18-who-pandemic-treaty-sparks-global-debate.html

 

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